Salvador colonial nas gravuras de Paulo Lachenmayer
Repare na gravura acima que representa a cidade nos seus primórdios, a
Salvador murada de Thomé de Souza, conforme a descreveram os seus
contemporâneos. Cidade murada com o objetivo de proteger os mais de mil
homens que vieram com o primeiro Governador de eventuais ataques dos
Tupinambas, os legítimos proprietários da terra colonizada, assim como
de invasores e corsários de outras nações que não Portugal.
A ilustração mostra em primeiro plano a porta de acesso à cidade, no
local onde hoje é a Praça Castro Alves, cercada de água, sob uma
depresão geológica natural que ainda existe e resultou numa ladeirinha
que desce rumo à Barroquinha. Destaca-se em linha reta a primitiva Rua
Chile, ao fundo o Paço Municipal e, na via paralela, observa-se a Igreja
da Ajuda; em segundo plano a ilustração mostra a Ribeira das Naus, hoje
sede do II Distrito Naval. Belíssima imagem, inspiração do artista
plástico, Irmão Beneditino Paulo Lachenmayer.
Cabe observar que o desenho do Irmão Paulo é a única representação
gráfica que temos da Salvador murada, referência ao período
1549-1551; neste último ano os muros originais começaram a ruir por
causa das chuvas. Grandes artistas plásticos (baianos, brasileiros e
estrangeiros) transportaram para as suas telas episódios históricos
(como o desembarque de Thomé de Souza ou o ato da abertura dos portos às
nações amigas), ruas, praias e o porto da Bahia, seus monumentos,
festas e folclore, mas somente o irmão Paulo registro a Bahia colonial
nos conformes do traçado original urbanistico do arquiteto Luis Diaz. E é
isso que torna esta gravura extraordinária, única.
O Irmão Paulo criou, então, sete gravuras, a pedido da Revista Fiscal
da Bahia, para ilustrar a capa, folhas de apresentação e os capítulos
correspondentes aos “Quatro Séculos De História da Bahia, transcorridos
em março de 1949, objeto da publicação. Revista primorosa com 382
páginas e registro fotográfico do desfile comemorativo da efemeride
através das lentes de Voltaire Fraga, Adriano Messeder e Silvanisio
Pinheiro.
Quem era o Irmão Paulo? Lachenmayer chegou em Salvador em 1922,
sofreu incompresões da arquidiocese que não aprovou algumas de suas
esculturas com técnicas inovadoras, mas que desafiavam os padrões
estéticos sacros vigentes e também dos baianos, durante a II Guerra
Mundial, pela sua origem Alemã. Lachenmayer dominava as técnicas de
escultura, pintura, relevo, mas definia-se a sim mesmo como arquiteto
especializado em interiores sacros. Conhecia muito de arte sacra, é
dele um dos laudos que atestam que a imagem de Nossa Sra da Aparecida
encontrada no Rio Paraiba, é de fato do século XVII.
Nos legou uma grande obra artística. Decorou a catedral do Rio de
Janeiro, a Basílica da Aparecida em São Paulo, coordenou os trabalhos de
interior da Catedral de Brasilia ao lado de Oscar Niemayer e criou
inumeros brazões para irmandades, prefeituras, igrejas pelo Brasil
afora, inclusive o brazão da UFBA. É de sua autoria o brazão da capa do
“Livro do Tombo de Sâo Bento” e também as imagens do livro “Reliquias da
Terra de Ouro”, em comemoração ao bicentenário do Santuário do Bom
Jesus do Matosinho, em Braga, Portugal. Ilustrou ainda a “Revista do
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN”, dentre
inumeras publicações.
Os soteropolitanos devem ao Irmão Paulo muito mais do que sua
admiração. O legado de uma imagem, representação de que como deve ter
sido Salvador com as sete ruas do traçado original.
Postado pçor Eleny Almeida