terça-feira, 16 de abril de 2013



RIO VERMELHO

Ostentando vasta e rica tradição, a história do Rio Vermelho antecede, em quarenta anos, à fundação da Cidade do Salvador. Foi descoberto de forma acidental, em 1509, por Diogo Álvares Corrêa, tripulante de uma embarcação ( portuguesa) que naufragou junto ao Morro do Conselho, bem defronte ao atual Hotel Pestana. O jovem conseguiu chegar à Pedra da Concha, uma pequena ilha rochosa ao lado do Morro do Conselho, frontal à foz do Camorogipe, na Enseada da Mariquita, onde se abrigou. Alguns dos seus companheiros também conseguiram se salvar e alcançar a terra firme, onde foram aprisionados e devorados pelos tupinambás. Como ficou escondido na Pedra da Concha, Diogo teve tempo de preparar a estratégia de defesa e sobrevivência. Dizem que quando foi, finalmente, avistado pelos índios, imediatamente usou o bacamarte para desferir certeiro tiro numa gaivota em pleno voo. Espantados, pois desconheciam a engenhoca barulhenta, foguista e mortífera, os nativos começaram a exclamar: “Caramuru, Caramuru, Caramuru que na língua tupi significa “homem do fogo, filho do trovão, dragão saído do mar”.

 Diogo Álvares Corrêa, de historiografia tão escassa, mas de uma vida recheada por fatos relevantes, foi protagonista de uma epopéia, onde o real e a fantasia se misturaram numa simbiose de mistérios e lendas, que criaram uma aura de magia em torno de um homem tido como português, mas que pode ter sido espanhol.  Caramuru, nome do batismo tupi, foi o primeiro habitante branco do território que faria parte da primeira capital brasileira. Primeiro poliglota da Bahia, falava português e galego, idiomas gêmeos da região natal, no noroeste da Península Ibérica, dominava o francês, utilizado nas articulações comerciais, e o tupi, a língua da terra adotiva, onde se tornou um semideus. Foi também o iniciador da miscigenação do branco com o índio, sendo o patriarca das primeiras famílias caboclas (mamelucas) da Bahia, quiçá do Brasil. Enfim, constituiu-se no fundador da primeira povoação onde ocorreu a efetiva integração entre as duas raças, o que não foi conseguido pelos degredados inicialmente deixados na terra de Vera Cruz, primeiro nome dado ao Brasil. Transformado num autêntico “cacique branco” dos tupinambás, Caramuru possibilitou o surgimento, na Mariquita, da chamada “Aldeia dos Franceses”, um entreposto de escambo do pau-brasil com aventureiros franceses. Mas, sem haver nenhuma fixação de forasteiros na região, o que somente ocorreria com o assentamento de currais de gado e armações para pesca da baleia, numa sesmaria doada pelo primeiro governador-geral da Colônia, Thomé de Souza, que em 29 de março de 1549 fundou a Cidade do Salvador com a ajuda de Caramuru, já residindo numa povoação onde ele construiu uma ermida, atual Igreja de Nossa Senhora da Graça. 


Fonte: Revista do Rio Vermelho, ano 1. Texto de Ubaldo Marques Porto Filho.

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